Se criticar não vai ajudar:
Trate os outros como você gostaria de se tratado.
Sorte a nossa que o ditado não diz: “Trate os outros como você trata a si mesmo”. Do contrário trataríamos uns aos outros com bastante grosseria e hostilidade, não é mesmo?
A motivação através do grito não é uma técnica desconhecido, ao contrário, durante a transmissão dos jogos da copa do mundo, vemos os técnicos em volta do campo ( e dentro do vestiário) gritando e incentivando seus jogadores. – O mais recente é o vídeo do técnico da Arábia Saudita Hervé Renard, onde questiona seus jogadores se eles querem tirar uma foto com Messi.
Na ocasião, a Arábia perdia para a Argentina, e após os incentivos de Hervé o time vira o jogo, ganhando a partida de 2 x 1.
Mas.. o que o incentivo do técnico tem haver com a forma com a qual muitos de nós se trata?
Tudo.
Muitos de nós tem uma espécie de diálogo interno, aquelas conversas motivacionais que temos com nós mesmos. Assim como Hervé, a nossa intenção é a de dar um gás e fazer o que deve ser feito.
Cada vez mais nos pressionamos para produzirmos mais e entregarmos um resultado cada vez melhor, se possível perfeito. Para isso nos colocamos sob pressão, com cobranças e autocríticas.
A nossa crítica interior ou a voz da nossa impostora, é o que nos leva a acreditarmos que não somos bons o suficiente.
Será que você se pegou dizendo a si mesma coisas do tipo: “nossa, como eu sou uma idiota”, “sou gorda demais para fazer academia” ou quem sabe com conversas mais elaboradas sozinha ou com outras pessoas, do tipo: ” não vou me candidatar a aquela vaga, eles pedem alguém com boa aparência e esse realmente não é meu caso“.
Não é raro ver mulheres que dizem cuidar mais dos outros e se esquecerem delas mesmas, no entanto continuam a se tratarem mal e buscarem a motivação por meio de gritos e insultos ( como se fossem verdadeiros técnicos de futebol).
Acontece que tais insultos só funcionam na beirada do campo, na vida real dizer a si mesma que você é burra, gorda, feia, péssima mãe uma filha ingrata, uma pessoa ruim, tudo isso diz sobre nossas frustrações e elas não surgem do nada.
De onde vem a voz da autocrítica
A gente não se critíca do nada, do mesmo modo que não defendemos ou rejeitamos uma ideia por nada.
A educação começa em casa
Observe como uma pessoa adulta que você é. Olhe para sua infância e para a forma com a qual foi ensinado.
As famílias não fazem de forma intencional, como os técnicos. Brigas e insultos são usados como combustível também ( estranho eu sei, mas dá uma olhada a sua volta e me diz se não é assim que funciona?).
Dizemos que notas não nos definem, mas avaliamos e somos avaliados desde sempre com notas. Parabenizamos as crianças quando são boas, educadas, silenciosas, obedientes. Comemoramos os méritos acadêmicos e as notas acima da média. Mas brigamos e rejeitamos quando as notas são abaixo do esperado.
Tentamos convencer as crianças de que comer é importante para que o cabelo cresça e elas fiquem bonitas. Inocentemente reforçando que beleza é importante.
Se teimarem ou forem desobedientes, tornam-se crianças feias, aquelas que ninguém quer por perto. Eu já ouvi adulto dizer assim:
“está vendo fulano, por isso que ninguém quer brincar com você”
Cruel, não é mesmo?
Mas com quem será que esse adulto aprendeu?
Bem… não preciso trazer mais exemplos, preciso? Os gatilhos já foram instalados. Quando crianças ouvimos frases desmotivacionais camufladas de incentivos.
Uma pena que ninguém volta atrás para nos ensinar o contrário.
Mas preciso dizer, a culpa não é só da família não.
Diga com quem andas
O lugar de onde viemos também diz muito sobre nós e nosso crítico interno.
Do mesmo modo que aprendemos em casa, a família não tira essas motivações do nada, ela é cultural.
O meio em que vivemos também dita muitas regras. Lembra que falei sobre as notas, pois bem, o lugar que você estuda, os locais que frequenta, as pessoas com quem fala e até mesmo a forma com a qual você se veste diz sobre você.
Uma pessoa em um ambiente que não é o seu de origem pode sofrer diversas formas de preconceito e acreditar que o problema é ela. Não por estar inserida em um lugar diferente de onde ela veio, mas porque ela não corresponde aos padrões daquele lugar.
E nesse momento quem é que sofre… ela a consciência.
No afã de se encaixar você mais uma vez critica a si mesma.
Fale bem ou fale mal, mas…
Mas nada. Esta certo que há momentos em que precisamos nos automotivar, nos autoconsolar e até mesmo dar um chacoalhão em nós mesmas. Mas nem sempre ser duro gera mobilização, ao invés disso pode causar estagnação, podendo causar a cristalização da imagem que a pessoa cria sobre ela mesma como algo nocivo e pessimista, alimentado o sentido de insuficiência.
Sabe aquela voz que antes gritava que você nem é tão bom assim. Ela não irá se calar, na verdade ela continuará falando, falando, falando…
A autocrítica somente será útil quando tem a finalidade de chamar a atenção para um erro e evitar que ele se repita, mas principalmente quando essa crítica vem carregada de reflexão e autoconhecimento. Quando você busca se moldar a situação e seguir em frente, ou seja, não te permitir se deixar abater.
É pra dar aquela respirada profunda e dizer a si mesma: ” Okay, agora não adianta chorar, é hora de se levantar e seguir em frente”.
A grande problemática no entanto é que esse comportamento (se autocriticar) venha a se tornar um hábito e o foco passa a ser e se depreciar e deixar de te impulsionar para então paralisar. Quem se sente motivado ouvindo que é uma pessoa burra, ineficiente e incompetente?
Dificilmente você irá olhar para si mesma e pensar: ” Vou te mostrar quem é a incompetente”. E sabe porque isso acontece?
Porque, quem chama a si mesma de incompetente diante de um erro, certamente diz a si mesma que um acerto é sorte. Ou seja, quando erra rola uma crítica, mas quando acerta diz que não foi nada demais.
A balança começa a pender apenas para o negativo, tornando-se impossível acreditar em si mesma outra vez.
Tá, mas e aí.. dá pra resolver?
Até que dá sim, mas será preciso disciplina, pois acredito que se você tem esse tipo de comportamento com você mesma, não será da noite para o dia que ele irá se transformar.
O primeiro passo é trabalhar a autocompaixão.
Pode ser que reclamar e falar mal com você mesma seja uma prática já enraizada, então é hora de plantar outras sementes.
Se para cada erro há uma crítica, para cada acerto precisa existir um elogio, uma recompensa. E não me refiro a recompensa no sentido de se presentear, com o famoso “eu mereço”, está mais para tapinhas nas costas mesmo.
Deixar de dizer que foi sorte, ou que nem foi lá tudo isso, e passar a agradecer a si mesma quando obtiver sucesso. Agradecer quando receber um elogio. Parecem ações simplistas, eu sei mas é questão de hábito você se acostuma.
Essa prática interna te ajudará também externamente. Quando ouvir a crítica que venha de outra pessoa, você conseguirá pensar deforma cautelosa com relação a você mesma, deixando a crítica no lugar dela – que não é com você.
Ninguém disse que será fácil, mas uma coisa é certa, se julgar, falar mal de si mesma com críticas ajudasse, você não continuaria a sentir-se como se sente no momento. Portanto, a autocompaixão é um caminho, se não certo, ao menos você irá aprender a ser mais gentil consigo.
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